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Para onde foram os Pais?

pedrocardosoleao

O ano de 2009 foi um ano importante na definição temática da minha produção de arte. Foi aqui que comecei a prestar mais atenção às questões de gênero masculino que me incomodavam de maneira inconsciente há tanto tempo. Trazidas à tona por leituras que Nana (Mariana Antunes) me apresentou nos poucos anos em que ela cursou psicologia na USP enquanto eu fazia publicidade. Contardo Calligaris, Flávio Gikovate e Robert Bly foram a porta de entrada para outros autores no que viria a ser o meu mestrado no ano seguinte, em Londres.


Nessa época, fiquei conhecendo a história do jovem Alfie Patten, um garoto britânico que, aos 13 anos de idade, engravidou sua namorada de 14, sendo considerado o pai mais jovem do Reino Unido. Embora a paternidade de Patten tenha sido desmentida alguns meses depois, a imagem do que parecia ser uma criança gerando outra criança ressoou com questões de paternidade que eu estava considerando na época. Patten incorporava uma sensação: a de que os meninos não chegavam a crescer de fato. Pelo menos não emocional e mentalmente. Algo no andar natural das coisas havia sido interrompido durante a revolução industrial, quando homens passaram a exercer suas profissões em fábricas, longe de seus filhos. Robert Bly mencionava isso em João de Ferro. Homens adultos não mais ensinavam garotos a amadurecerem. E o resultado eram homens adultos em corpo e impúberes em espírito. Patten tivera uma atitude muito madura ao assumir a paternidade da criança. Mas fisicamente, mantinha a aparência de um garoto segurando um bebê.


Concomitantemente, eu estava explorando uma técnica ensinada de maneira um tanto aleatória por um professor nos dois anos de Escola Panamericana de Artes que fiz na adolescência. Era a transferência de imagens de jornais e cópias xerográficas usando thinner. Experimentando a técnica junto ao desenho em carvão, rascunhei a primeira imagem do que viria a ser a série Para onde foram os pais?. Nunca considerei um trabalho finalizado, razão pela qual ele nunca foi exposto. Ainda era algo imaturo, tanto em técnica quanto em tema.


O título viera de um trecho de uma música de David Bowie. Tratando sobre a perda de inocência, a letra perguntava "Where have all the flowers gone?". Em uma primeira escuta, eu confundia o trecho e cantava "Where have all the fathers gone?".

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