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Father (Estudo)

pedrocardosoleao

No segundo semestre de 2010, viajei para Londres para fazer um mestrado de um ano no Chelsea College, instituição que fazia parte da University of the Arts.


Os diretores do curso nos aconselharam a usar a oportunidade do mestrado para experimentar coisas que não estávamos acostumados a fazer. Sendo um pintor, experimentei sair desse meio e comecei a fazer performances. Eu tinha alguma curiosidade em experimentar algo mais presencial, que não fosse um produto físico. Algo no qual eu pudesse mergulhar durante o mestrado sem a preocupação de como isso seria comercializado. Algo que dependesse da minha presença física, de modo que a obra estaria para sempre inexoravelmente ligada a mim.


Durante o ano em Londres, entrei em contato com colegas de curso que eram pais. E que, sendo artistas plásticos, invariavelmente eram o menor salário do casal. Cheguei a entrevistar alguns, e comecei a me interessar ainda mais por essa dinâmica do pai de família. Pela importância e o papel do pai. O interesse ainda levaria alguns anos até emergir como um tema principal nos meus trabalhos, mas já mostrava sua força naquela época.


Das conversas e entrevistas, começou a formar-se um conceito na minha cabeça. Uma idéia de esferas de influência concêntricas. O filho ou filha seria o centro, rodeado pela figura materna que estaria em contato constante e nutrindo ele ou ela. Mas ambos estariam separados (protegidos?) da agressão do mundo externo pela figura paterna. Ele tinha contato e ação com o mundo externo e com a mãe, mas não teria contato com o filho ou filha. Era a linha de defesa mais externa desse núcleo familiar, e o primeiro a receber os impactos do que viesse de fora.


Eu sabia que essa estrutura familiar era bem tradicional e antiquada. Mais antiquada ainda era a conexão dessas figuras ao gênero. Na minha turma do mestrado, eu conhecia pais que passavam mais tempo em casa e em contato com os filhos, enquanto as esposas trabalhavam em carreiras de altos salários e tinham pouco contato com a casa. Sabia ainda que havia hoje um ideal de ambos dividirem de maneira equânime tanto as tarefas domésticas quanto o provento da casa. Mas também sabia que perdurava a tendência a essa estrutura, mesmo nos casais mais progressistas.


Em algum ponto do mestrado, gastei algum tempo criando a performance "Father". Ela tinha seus problemas: a figura materna estava totalmente ausente e eu não conseguia definir um figurino que fizesse sentido e trouxesse significado à performance. Mas a imagem do primeiro estudo para a performance ficou guardada nas minhas mídias sociais e hoje acho que ela tem alguma potência que vale ser vista.


Na performance, eu entro no espaço performático com um molde de gesso do qual eu tiro um ovo de cera. Cuidadosamente eu coloco o ovo em um pedestal, e me preparo para o que virá a seguir. Uma pessoa de fora do espaço performático atira pedras na tentativa de quebrar o ovo. Minha função, como "pai", é impedir qualquer dano ao ovo. Nos três vídeos que gravei durante o estudo da performance, cheguei a esbarrar no pedestal e quebrar um dos ovos. Como um pai superprotetor que acaba prejudicando em vez de ajudar. A performance também incorporava uma crítica minha à ideia da descartabilidade do corpo masculino, do quanto ele podia ser agredido em prol de uma causa. Meu assistente nos vídeos, o colega de mestrado Jonathan Morgan, pegou leve ao jogar as pedras. Razão pela qual eu não fiquei com marcas das pedradas depois. Mas teria sido interessante documentar os hematomas de alguma maneira.




Father (estudo)

2011

Videoperformance

1'29"

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